Minha mãe foi lavandeira. Lavava roupas ”para fora” no
sentido estrito da palavra. Dessa forma ajudava meu pai no sustento da casa.
Quem ia entregar as roupas era eu. Perto do estádio de futebol 19 de
Outubro, se a memória não falha, havia uma
lavanderia pública onde quem quisesse
poderia aportar com as suas roupas e sabões e fazer o que tinha de ser
feito. Era uma construção enorme com uns trinta tanques.
Minha mãe não a usava. Preferia lavar numa sanga (gauchês =
córrego, riacho) que existia no final da nossa rua. Uma vez a questionei do
porquê dela não ir até a lavanderia já que era de todos e com certeza, mais
confortável que ficar de joelhos à beira d’água. Do seu jeitinho me explicou
que não gostava do ambiente. E mais não disse. Na primeira oportunidade que
tive, ao passar pela lavanderia, parei e como quem não quer nada, fiquei
prestando atenção. As fofocas corriam soltas. Num determinado momento,
bate-boca violento e se não houvesse intervenção de outras, duas teriam se
agarrado. Outras querendo ver o circo pegar fogo as incitavam.
Espaço plural e
democrático!
Chegando a casa falei para minha mãe que a entendia quando
não queria ir até a lavanderia. E mais não disse.
O que isso tem em comum com a situação atual das ruas no
Brasil?
O meu sentimento, a minha percepção, o meu olhar, o meu
conhecimento, me revela uma grande, uma enorme lavanderia. Um monte de roupas
sujas. Lavandeiras mil se acotovelando, cada uma com sua sujeira (bandeira)
tentando dar um acabamento ao seu vestuário (desejo, objetivo, interesse).
Esquecem o Sabão (solução). Não o trazem para a grande lavanderia.
Como a variedade é grande e depende da perspectiva de cada
grupo, como nem pensaram em solução, como não há unidade e num ambiente assim
nunca haverá, o movimento serve a muitos propósitos.
O primeiro é que haja o movimento. Não, necessariamente, com algum objetivo. Qualquer
um serve, pois é a “democracia” em curso. O momento, Copa das Confederações,
véspera da visita Papal, véspera da Copa do Mundo e véspera de eleições, nem Maquiavel
escolheria melhor... Com as pesquisas indicando vitória no primeiro turno. Com
a certeza de que o Governo mesmo espicaçado até por juízes, conseguiu levar a
contento as obras para os eventos. Com a vitrine mundial se abrindo para nossa
economia. Com as conquistas internacionais de postos na ONU por brasileiros elevando nosso
prestígio no Mundo. Com Lula, deitando cátedra mundialmente. Com tudo isso,
quem está perdendo no campo político(oposição e seus defensores) ou econômico(países
que estão perdendo hegemonia sobre a América do Sul) no mínimo tenta se aproveitar
da ocasião e no máximo, me atrevo a dizer, fomentou esse movimento que não é espontâneo.
Outro propósito, para a grande massa, talvez seja mesmo a
solução de vários problemas pontuais como o das tarifas. Como não trazem
solução, só querem resultado, a resposta com alguma redução tenderá a resolver
momentaneamente e dissolver o núcleo principal. O problema em si, que é o
anacronismo corrupto que envolve esse tipo de concessão (e outros como as
comunicações e mídias) não será resolvido.
A propósito dos problemas estruturais (corrupção, reforma
política, melhor desempenho governamental nas áreas públicas) o movimento não
sinaliza com qualquer tipo de solução sendo nesse sentido, são usados somente para
“encher lingüiça” e dar corpo à pauta de reinvindicações.
Soluções que realmente mudem o Brasil? Levará tempo. Levará
estudo. Levará união em torno de. Levará consciência geral muito desperta. Não vejo nada disso. Vejo um imediatismo que
não se concretizará e que serve somente para pressionar os governos. As
soluções advindas de políticas açodadas nunca trouxeram bons resultados.
Temos uma base muito boa para iniciar essa ruptura com
velhos problemas. O atual governo, quer queiram quer não, atacou alguns
entraves ao desenvolvimento. A inflação, apesar da mídia e seus tomates, está
sim controlada e o governo tem sim meios de mantê-la assim. Os juros altos,
bandeira surrada por décadas por todos os partidos, foram sim atacados e
resolvidos. Os problemas de infra estrutura estão sendo atacados da melhor
maneira possível, nenhuma outra solução foi apontada. O PIB apesar de pequeno,
é positivo contra os de outros países desenvolvidos que se apresentam de uma
forma negativa com perspectiva longa para recuperação. Não temos desemprego
alucinante. Estamos aumentando número de vagas universitárias e técnicas. Há
programas disponíveis para municípios e estados melhorarem o desempenho de suas
escolas. Na saúde nunca houve uma cobertura grátis para remédios tão grande
como a atual. Se olharmos números, é insignificante o número de mortes por
falta de atendimento, o que para mim ainda é muito gritante, mas não é a
epidemia que a mídia pinta! A corrupção nunca foi tão escancarada pelas ações
da polícia e nunca foi tão seletiva nas soluções pela Justiça em todos os
níveis. A reforma política não será executada sem uma constituinte exclusiva,
sem políticos de carreira e paraquedistas de última hora .
Por tudo isso acredito que sim é valido esse “chacoalhar”
das estruturas como visível constrangimento de alto a baixo de todos os
escalões políticos da nação, mas com apresentação de soluções senão...
...vira uma imensa lavanderia como nos meus tempos de piá.
Sem apresentarem soluções melhores das que aí
estão, esse movimento não me representa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário