quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Enquanto isso, executivos discutem soluções para a crise tomando champagne a beira da piscina...
Sistema de saúde grego à beira da catastrofe
Uma reportagem do jornal inglês Guardian mostra como os mais pobres estão a ser afastados dos cuidados de saúde na Grécia. Os cortes da troika também deixaram os hospitais com falta de equipamento.
Uma reportagem do jornal inglês Guardian mostra como os mais pobres estão a ser afastados dos cuidados de saúde na Grécia. Os cortes da troika também deixaram os hospitais com falta de equipamento.
O jornalista do Guardian visitou um centro de atendimento da ONG Médecins du Monde, criado para dar resposta a imigrantes ilegais mas que hoje praticamente só atende cidadãos gregos, os "novos pobres" que não conseguem pagar o acesso à saúde.
As pessoas que procuram este centro são "sobretudo novos pobres e um problema suplementar é que os hospitais agora cobram por cada vez que o doente lá vai", diz George Padakis, o médico que ali dá assistência e admite que "não esperava vir para aqui tratar gregos". "Um sistema de saúde que já não era o melhor, agora vai de mal a pior", lamenta Padakis.
"As pessoas que podem pagar têm acesso imediato ao tratamento. Mas o que está a acontecer em zonas como esta, com desemprego alto, é que quem tem problemas de saúde não está a ser acompanhado ou então, como este doente - um diabético de 42 anos - não tomam a medicação quando devem porque não conseguem pagá-la", denuncia o médico deste centro instalado na cidade de Perama.
O conjunto do sistema de saúde ressente-se agora dos cortes orçamentais do governo e da troika. Os salários dos médicos foram reduzidos ao nível da função pública, há carência de instrumentos de trabalho nalguns hospitais e até as clínicas privadas foram obrigadas a baixar os preços. É o caso da maternidade de Iasso, onde se fazem 16500 partos por ano e que cortou 35% nas tarifas aplicadas para não perder clientes.
Para além do corte salarial, que lhes levou os subsídios do Natal, Páscoa e férias, os médicos gregos também deixaram de ver apoiada a compra de livros de medicina, normalmente caros. Jenny Ioannidis trabalha no maior hospital de Atenas e disse ao jornalista do Guardian que este ano já houve alturas em que faltava muito material.
"Como o hospital devia dinheiro aos fornecedores, ficámos sem endopróteses. Depois houve duas semanas em que não tivemos toalhetes para tirar o gel aos doentes. Usámos papel higiénico e rolos de cozinha". Mais grave foi o caso contado pelo marido, também médico, sobre a falta sentida em vários hospitais de Atenas de lentes intraoculares usadas nas operações às cataratas. O resultado foi uma deslocação em massa destes doentes para o hospital onde trabalha, o único com lentes em stock e que se viu obrigado a recusar muitos doentes a precisar delas.
As faltas de material são um relato comum a outra médica que trabalha com doenças infecto-contagiosas. Olga Kosmopoulou faz questão em dizer que está no serviço público porque escolheu "trabalhar para os que não podem pagar". Esta médica diz que a Grécia tem "um sistema privado que tem sido muito lucrativo e um sistema público que tem dado boas respostas" e que a razão para agora não estar a funcionar "não tem a ver com os cortes nos salários", mas sim com "a carência no sistema público de materiais que são essenciais, bem como o facto de já não sentir que trabalho na medicina pública, isto porque as pessoas são obrigadas a pagar tantas vezes".
1 comentários: