BOAS VINDAS AO NOSSO BLOG

FINALMENTE APOSENTADO, COM NOVO ÂNIMO E FÔLEGO RENOVADO, SEM DORES MAS COM ALGUMAS DEFICIÊNCIAS FÍSICAS E MUITA CRENÇA NO PROPÓSITO COLOCADO: MELHORAR O NOSSO MUNICÍPIO











O que significa ITAARA. Diferentemente do que pensam e escreveram no Site da Prefeitura, no Jornal Aguas da Serra e em alguns Sites, a nossa opinião é que o significado real do nome Tupy-Guarany ITA+ARA é Pedra dos Papagaios: Ita=Pedra + Ara=Ave da família dos Psitacídios(Araras, papagaios, periquitos, caturritas, jandaias, maritacas, etc).







Então diretamente da Pedra dos Papagaios iremos colocar assuntos de relevância para o município.





NÃO ACREDITE EM NADA QUE LER NESTE BLOG, PESQUISE, EXPERIMENTE, TESTE...











segunda-feira, 25 de junho de 2012

Os melanomas e a Pariparoba


Meu Pitaco: Retificação da ocorrência da Pariparoba. Não fica restrito ao Rio de Janeiro, mas estende-se por todo o Sudeste e o Sul. Em uma remanescente de Mata Atlântica aqui em Itaara, vizinha à minha casa, há muitas e me servem como alívio para males de estômago e fígado principalmente a digestão. Aqui na colonização italiana, é chamada de Redondo pelo formato da folha.Neste sítio é onde encontrei uma melhor descrição do uso da Pariparoba: http://www.gem.odo.br/images/monografia/Pothomorphe-umbellata-Caapeba.pdf


Pariparoba é capaz de inibir melanoma - Ludymilla Sá‏

Estudos desenvolvidos na USP mostram que planta facilmente achada na Região Sudeste tem poder de proteger a pele contra a forma mais agressiva do câncer de pele Ludymilla Sá 

Há quem diga que a cura do câncer pode estar escondida na biodiversidade das florestas brasileiras. Pesquisadoras da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF/USP) tentam comprovar a tese. Testes pré-clínicos revelaram que um composto extraído da pariparoba (Pothomorphe umbellata), uma insuspeita plantinha originária da mata atlântica e facilmente encontrada na Região Sudeste, é capaz de inibir o desenvolvimento do melanoma, a forma mais agressiva do câncer de pele, que tem origem nos melanócitos, células produtoras de pigmentos. 
A molécula extraída da pariparoba, batizada de 4-nerolidilcatecol (4-NC), foi testada em um modelo de pele artificial durante o doutorado de Carla Abdo Brohem. De acordo com Silvya Stuchi Maria-Engler, coordenadora do estudo, o composto já havia demonstrado em pesquisas anteriores, coordenadas pela professora Sílvia Berlanga de Moraes Barros, um potente efeito antioxidante, capaz de proteger a pele dos danos causados pela radiação solar. 

Depois, testada em culturas de células tumorais, a molécula demonstrou ser capaz de induzir a morte celular. A partir daí, foi sugerida a investigação do seu potencial antitumoral. “E conseguimos concluir que o composto impedia que as células tumorais invadissem a camada mais profunda da pele (derme) e se espalhassem para outros tecidos”, conta Silvya. De acordo com ela, a molécula é extraída da raiz da pariparoba. “Testamos em cultura de células in vitro e, diante da necessidade de gerarmos um ambiente semelhante ao da pele humana, reproduzimos a pele artificial, que de fato não é artificial, mas pele humana reconstruída em laboratório, evitando também o uso de cobaias, como preconiza a diretiva europeia de 2009, que bane testes em animais para fins cosméticos”, acrescenta. 

Não se sabe ainda como o composto poderá ser usado para combater o câncer de pele: se por meio de produtos cosméticos, pomadas ou remédios. Também é necessário saber se seria seguro em seres humanos. Diante disso, novos testes serão necessários, segundo a pesquisadora, e desta vez em cobaias. “Ainda não temos esta resposta. Por ora nossos resultados demonstram uma indução da morte do melanoma humano in vitro, mas dependemos de vários outros testes que estão sendo feitos, inclusive em cobaias. A molécula já passou por exames de toxicidade em animais. Se também for aprovadas na avaliação de eficácia, poderá ser testada em humanos.”

Silvya Stuchi conta que estudos da pariparoba são desenvolvidos no laboratório da FCF/USP há mais de 20 anos. Foram iniciados pela professora Silvia Berlanga, motivada pela etnobotânica – linha da ciência que estuda as contribuições da botânica e da etnologia. 

USO INDÍGENA Havia o relato de que uma população indígena da mata atlântica utilizava a pariparoba para curar feridas na pele como cicatrizante e até para curar úlceras gástricas. “A partir de então, observamos que um gel contendo o extrato da planta aplicado na pele de camundongos sem pelo, que usamos como animal de ensaio, os protegia dos raios UVB, das lesões induzidas pela radiação. A ideia era que o extrato, quando veiculado em forma de gel e aplicado antes da exposição ao sol, protegesse a pele contra danos lesivos pela radiação”, relatou Berlanga. 

Provado isso, houve a necessidade de resguardar a pesquisa e, em 2002, as duas pesquisadoras registraram patente reconhecendo que a formulação protegia a pele contra o fotoenvelhecimento e a fotocarcinogênese no World Intellectual Property Organization (WIPO) e no México. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), no entanto, ainda está julgando o pedido. 

A empresa brasileira de cosméticos Natura licenciou a patente durante dois anos e empregou o extrato de pariparoba em produtos de uma de suas linhas de tratamento. A linha foi descontinuada e saiu do mercado. Atualmente não há ninguém licenciando a pariparoba. 

UVB x UVA
Os raios UVB fazem parte da radiação solar e são responsáveis por induzir câncer de pele e envelhecimento cutâneo. Sua incidência aumenta muito durante o verão, especialmente entre as 10h e as 16h. A radiação UVA é a maior parte do espectro ultravioleta; tem intensidade constante durante todo o ano, atingindo a pele praticamente da mesma forma durante o inverno ou o verão. Penetra profundamente na pele, sendo a principal responsável pelo fotoenvelhecimento. Tem importante participação nas fotoalergias e também predispõe a pele ao surgimento do câncer. Também está presente nas câmaras de bronzeamento artificial, em doses mais altas do que na radiação solar.

Saiba mais
Bendita planta

Também conhecida como capeba, catajé, malvarisco e manjerioba, a pariparoba (Pothomorphe umbellata) é uma planta nativa do solo brasileiro, ocorrendo desde a Amazônia até o Rio de Janeiro. É uma planta arbustiva, que alcança até 1,5m, com ramos estriados e com pelos. As folhas são ovaladas, arredondadas ou em forma de rim. Possui flores minúsculas que se distribuem em espigas de até 10cm de comprimento. Da planta, utilizam-se folhas, raízes e caules com fins medicinais. O chá das raízes e folhas estimula as funções estomacais e hepáticas, favorecendo a digestão, além de funcionar como diurético. Já o decoto de caules e folhas alivia febres e afecções nas vias respiratórias. O cataplasma das folhas age em queimaduras superficiais, furúnculos e dores de cabeça. Também pode ser usada na fitocosmética (xampus), assegurando brilho aos cabelos.

Estado de Minas
25/06/2012 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Outono temperado no RS - O cobertorzinho de Mostardas.João Simões Lopes Neto


João Simões Lopes Neto, quem é?

Neste ano estamos vendo uma rebeldia extremada da Mãe Natureza. Semana passada coloquei aqui sobre o frio de Inverno que assolava o nosso Rio Grande. Esta semana é o calor do Verão que nos deixa afogueados. Nessa reviravolta, tentei inutilmente criar um causo como da semana passada - http://blogdeitaara.blogspot.com.br/2012/06/outono-temperado-no-rs-frio-polar.html - mas não consegui! Então apelei para as recordações e lembrei dos CAUSOS DO ROMUALDO,  obra deixada pelo Simões que somente na década de 1950 seria editada. No causo que trago, a narrativa situa-se no inverno e descreve um calor fora de época, assim como esse que estamos vivenciando. Como foi escrito no início do século XX, o palavreado, o estilo literário assemelha-se aos contadores de causo, muito comuns naqueles tempos sem rádio e sem televisão. Jornais havia, meu avô materno, Alferes Felício Hipólito dos Santos, já assinava, no perdido Alto da União entre os municípios de Ijuí e Cruz Alta, o jornal Correio do Povo ainda na sua versão cor de rosa! Mas deixemos de conversa e vamos para o causo:  


XI - O COBERTORZINHO DE MOSTARDAS
No meu tempo de meninote fui caixeiro na cidade do Rio Grande, que naquela época
dava a nota no comércio da província. Como era da praxe, o meu primeiro posto foi o de -
vassoura.
Varria o armazém - uma "venda" em ponto grande - agarrava à unha as baratas
vagabundas que passeavam sobre os queijos e os bacalhaus, lustrava os sapatos de fivela do
patrão e ia à missa das sete horas, porque era dos mandamentos. As vezes chuchava o meu
cascudo dado pelo sr. 1º caixeiro; comia - por último - na ponta da mesa grande, sem toalha e tudo
no mesmo prato; ao escurecer ia a casa tomar a bênção aos meus pais e voltava logo, para dormir
numa esteira, atrás das pipas. Isso tudo eu e os outros fazíamos para aprender - a ser gente.
Mas a vida ia correndo. O diabo foi uma mulatinha, que...
Foi assim: perto do armazém morava uma senhora viúva, com três filhas, meninotas
como eu, porém bonitinhas como uns feitiços...
De manhã, quando eu ia à missa ou de lá vinha, espichava para elas os olhos... mas
baixava-os logo, entre respeitoso e envergonhado.
As meninas riam-se, cochichavam e beliscavam-se.
À noite, quando ia à bênção caseira ou de lá vinha, etc, e tal, era a mesma cousa.
Aquela obrigada passagem pelos três diabinhos punha-me as orelhas em fogo e
forçava-me a trocar o passo, na atrapalhação do meu acanhamento.
Porém, a mais dos três diabinhos havia mais uma mulatinha, repolhudinha, bem da
cor do pêssego maduro, e ladina como um sorro...
A mandado das sinhazinhas a mulatinha vinha ao armazém comprar rapaduras,
puxa-puxa, pé-de-moleque ou broinhas, que eram os doces que havia; e embirrava em que só
havia de ser servida por mim!
- Seu Romualdo, quatro de broinhas e dois de puxa-puxa!
Se outro caixeiro vinha atendê-la, a mulata empacava-se e teimava:
- É o seu Romualdo quem me serve. A nhãnhã deu "orde"! ...
E este seu criado Matias... A vida ia correndo.
Ora, uma tarde, tinham todos ido jantar, ficando eu, como de costume, sozinho de
plantão ao balcão. Nessa tarde, não sei porquê, até uns sujeitos que costumavam ficar por ali
fazendo horas, até esses não apareceram.
Estava eu olhando para uma caixa de massas italianas e cá de mim para mim
perguntando que estranha árvore seria aquela que dava lasanha e macarrão, quando
embarafustou porta adentro a mulatinha:
- Seu Romualdo, três de pé-de-moleque!
Fiz os três vinténs de pé-de-moleque e por minha conta tomei de uma rapadura e
dei-lha, dizendo, meio a tremer de mim mesmo:
- Toma: isto é doce como tu..
A mulatinha avançou na rapadura e respondeu espevitada:
- Como tu, vá ele! "Menas" confiança! Estomagado com a ingratidão, quis retomar a
rapadura e fisguei o pulso da mulata. Houve uma pequena luta silenciosa e ... justo, ao tempo que
entrava da rua o patrão, a mulata bradava às armas:
- Seu Romualdo, não me belisque!
- Largue a cabra, menino! berrou o meu patrão, a dois passos de mim.
E como vinha de mãos a prumo sobre as minhas orelhas ... quebrei o corpo. Depois,
não sei explicar o que se passou: divisei ao meu lado, na boca de uma barrica, um alguidar com
manteiga; nele e nela afundei as mãos e com tal bocado - três ou quatro libras - fiz arma de
defesa.
Os dedos ferozes tornaram a roçar-me as orelhas ... outra negaça de corpo e quando
alcei-me, plantei a plastada da manteiga na cara do patrão. Olhos, barbas, nariz, boca, testa.
Calafetei-o!
E voei, porta fora, assombrado. A mulatinha, em frente, fez uma careta e gritou-me:
- Bem feito! Apanhou! ... Apanhou! Bem feito! ...
Cinco minutos depois entrava em casa.
- Tratante! bradava Romualdo pai. Atreveres-te! ao teu patrão... ao segundo pai dos
caixeiros! Patife!
- Mas ele ia arrancar-me as orelhas... murmurava eu, Romualdo filho, a tremer, com
a boca pegada a cuspo grosso.
E Romualdo pai:
- Pois fazia muito bem! Quem dá o pão dá o ensino!
E Romualdo filho:
- Que ele sempre... tratou-me... como cachorro... gaudério! Ih! Ih! Ih!
E mais não disse, que os soluços embargaram-me a voz e os queixumes. Afinal a
"velha" acomodou as cousas. As mães sabem sempre ser anjos.
Fui mandado para Mostardas, a passar uns dias com o meu padrinho.
Foi um rega-bofe a viagem, que durou três dias, a bordo dum lanchão; foi outro regabofe
a estadia, que durou duas semanas, em casa do padrinho.
Mostardas é uma povoação perdida entre areiais, junto à costa do oceano. Gente
boa, do bom tempo. Tece o linho, de que faz desde os enxovais de casamento até as camisas do
diário; tece a lã desde os xergões grosseiros até o picotinho lustroso.
Nesse tempo existia aí uma raça especial de ovelhas que produziam uma lã tão
aquecedora como nunca mais vi outra. Essas ovelhas morriam muito no verão abafadas na pele,
era necessário tosqueá-los à navalha. A gente que trabalhava com tal lã suava em barda e ficava
com as mãos vermelhas, quentes, fumegando, como se estivesse lidando em água esperta.
Mas eu, como criançola, pouca atenção dava a estas cousas.
O lanchão amarrou novamente; nele devia eu regressar. Na véspera da partida, a
santa da madrinha arrumou a minha bagagem. Minha, propriamente, era apenas uma canastra
pequena, forrada de couro cru, peludo. O mais eram presentes que eu levava: um fardo de
miraguaia salgada, uma barrica de camarões secos, uma peça de picote, umas toalhas com
rendas de bilros, etc.
E para mim, expressamente meu, um cobertorzinho, feito da tal lã das tais ovelhas
especiais. O meu cobertorzinho era pequeno; dava apenas bem para o meu corpo: muito leve,
transparente e felpudinho. Do lado que devia ficar para os pés. tinha duas barras vermelhas e do
lado da cabeça tinha o meu -Romualdo - em letras azuis.
Fiquei encantado! E como já queria utilizá-lo na viagem, emalei-o atando-o com uma
eitibira larga, descascada a capricho.
Na manhã seguinte, sob bênçãos e lágrimas dos meus padrinhos, embarquei.
O lanchão içou velas. Ainda uns abanados de mãos, de lenços ... e tudo lá ficou,
para sempre, na volta do arroio!
Mal pus os pés em terra, meu pai disse-me que eu marcharia para Bagé... como
caixeiro!
Chorei pelo patrão da manteiga, pelas meninas e até pela mulatinha; chorei por
Mostardas, pelo lanchão...
Entreguei os presentes, as cartas, dei as lembranças, os recados e os abraços que
me confiaram.
Na minha desgraça só o meu cobertorzinho me consolava. Mal toquei-lhe, para
mostrá-lo à minha mãe, a embira, de ressequida, esfarinhou-se. Não prestei a isso maior atenção,
mas já foi suando que o amarrei de novo com uma ourela de pano piloto. Minha mãe abanava-se
de leque, como em dezembro.
Segui para Bagé. Uma viagem dessas, naquele tempo, dava para um romance!
Todos sabem disso. Passemos adiante.
Quando a "deligência" fez a última parada, perto da igreja de S. Sebastião de Bagé, o
meu novo patrão esperava a encomenda.
Era eu.
Era ele um espanhol baixinho, gordo e gritão.
Como é dos estilos, pus a canastra ao ombro e marchamos para a casa do negócio.
Fazia frio!... frio!... Que frio que fazia!... As fumaças do cigarro do espanhol ficavam
paradas no ar, endurecidas, talvez congeladas... Pouca gente a pé. Muitos homens a cavalo;
emponchados, todos.
Chegamos. Entramos. Pousei a canastra. Olhei.
E chorei, logo. Aquela. distância, aquelas caras novas e cousas estranhas
achatavam-me.
O patrão então falou:
- Mira, chico, estarás estrompado, he?... Vate a dormir. Mañana tempranito te
tomarás un cimarón con galletas!
E conduziu-me ao meu quarto, isto é, ao quarto da caixeirada.
Lá, no Rio Grande, tínhamos esteiras, aqui temos pe1egos... Ganhei na troca.
Atirei-me sobre o meu pelego. Mas o frio cortava.
Meio de gatinhas, pés duros, canelas duras, ombros duros, mãos duras, consegui
abrir a canastra e sacar o meu cobertorzinho. Provavelmente eu devia de estar com a cara como
uma batata roxa...
Tocar no cobertor foi uma satisfação, abri-lo um prazer, estendê-lo sobre meus
pelegos, uma alegria; meter-me debaixo dele, um consolo divino... E ferrei num sono de pedra.
Lá pelas tantas acordei-me meio afogado, lavado em suor.
Acordei-me sob uma granizada de risadas e falaraz dos rapazes companheiros,
todos em trajes menores, sentados nos peitoris das janelas, que davam para o quintal.
- Que abafamento! que calor! diziam eles.
- Parece meio-dia de fevereiro!
- Se tivesse água agora, era banho certo!
Eu, por mim, não podia mais; parecia-me que tinha um pano de fogo em cima do
corpo. Fui para a janela, como os outros.
Nisto o espanhol abriu a porta do nosso quarto e - descalço, em ceroulas e de
poncho de pala enfiado - bradou:
- Eh! muchachos! Habrá fuego en la calle? Que está caliente como un sol dormiendo!
Mas logo bateram à porta da frente.
- Hay fuego, muchachos! Es fuego! A ver!
Saímos todos com o patrão; abriu-se uma porta e logo entraram uns quantos sujeitos
vestidos muito à frescata.
- Chê! Bote um capilé! pediu um, esbaforido.
- Outro! Que calor! gritou outro tipo.
- Menino, dá cá um refresco... reclamou um terceiro.
- Donde es el fuego? inquiria, aflito, o espanhol.
- Que fuego, nem fuego! Calor da noite é que é.
- Isto é tormenta!
- Olha! Outro capilé!
- Aqui também!
E o calor aumentava.
Casas abriam-se com rumor, acendiam-se os candeeiros e as velas das "mangas" de
vidro.
Crianças vinham para a rua, em camisinha. Ouviam-se risadas, conversas,
chamados. Começavam a mandar buscar cousas ao armazém. Tijolos de goiabada, rapaduras e
bolacha doce, latas de sardinha, ovos e toucinho para fritadas, varas de lingüiça, para comezainas
improvisadas.
Outras casas de negócio vizinhas também abriam, para servir à sua freguesia. Havia
movimento em toda parte, como se fosse de dia.
As pessoas que chegavam de outros lugares queixavam-se de que o calor aqui no
armazém ainda era mais insuportável que lá.
De repente ouvimos um estouro forte, dentro do balcão; era um barril de melado que
arrebentava, espumando. Um dos caixeiros que fora servir a um freguês avisou ao patrão que as
velas de sebo e as barras de sabão estavam pegadas, tudo quase como uma pasta.
Todos os que bebiam ao balcão, queixavam-se e reclamavam que os refrescos
estavam mornos. Veio um negro buscar uma galinha, que o seu senhor queria comer uma canja,
para passar o tempo...; o caixeiro que foi ao galinheiro voltou, atarantado, a participar ao patrão
que as aves todas estavam assoleadas e já morto um peru gordo.
O espanhol, corado, pingando suor, e sempre em ceroulas e de pala enfiado, correu
para os fundos.
Mira! Que cosa bárbara!
Do lado do arroio vinha uma algazarra alegre, gritos, gargalhadas, ditos: era o povo
que tomava banho!
Nós todos no armazém suávamos como tampa de panela. Um estancieiro, freguês
da casa, pediu um chimarrão; o primeiro caixeiro amarrou a cara, porque era estopada ir-se
aquentar água àquela hora, mas mandou preparar o amargo. Saiu e voltou logo o peão com os
avios e a "chocolateira" com água, fervendo em pulo, e de entrada foi dizendo:
- Eta, diabo! ... Lá na cozinha "tá" tudo fervendo! ...
Aquilo estava esquisito, estava... Nunca se tinha visto um tão curioso calor em junho,
entre Santo Antônio e São João, que é o tempo justo em que a geada cura as laranjas e branqueia
como farinha, no terreiro e nos telhados.
E o espanhol, bufando, repetia:
- Que cosa bárbara! que cosa bárbara!
Eu, bem se imagina, estava atarantado com tudo aquilo; e sentindo a roupa
empapada, com receio de alguma constipação, resolvi mudar outra, enxuta ... e esgueirei-me para
o quarto.
Quase não pude entrar, sufocava, lá dentro; era um forno. Contudo, avancei até a
minha canastra: era insuportável, aí perto.
Então, só então, como um raio, foi que me lembrei do meu cobertorzinho!
Era ele, só ele, o calor, a quentura da sua lã, que estava causando todo aquele
estrupício na cidade.
Fiquei aterrorizado.., se o espanhol descobrisse!
Muito caladinho, apressado, dobrei-o, amarrei-o e atirei-o para o fundo da canastra,
que fechei com o cadeado.
E disfarçado, vim para o balcão, com os companheiros. Daí a pouco começou a
abrandar a torreira' foi abrandando; veio a viração da madrugada; já se respirava melhor. Surgiram
as barras do dia e todos se foram deitar, para aproveitar ainda uma hora de sono.
Nunca ninguém soube disto. Dias depois, para tirar-lhe as pulgas, estendi o meu
cobertorzinho ao sol.
Foi o meu prejuízo: combinaram-se a quentura da lã e o calor do astro... e pegou
fogo!
Quando fui levantar a minha coberta, era pura cinza.., e nem fumaça tinha havido!
Olhem que era cobertorzinho quente, aquele!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Outono temperado no RS: frio Polar Glacial!!!!



sexta-feira, 8 de junho de 2012

Outono temperado no RS: frio Polar Glacial!!!!

Temperatura abaixo do zero grau centígrados marcado pelo dr Célsius. Ar Polar Antártico ou Ártico. Como diz o gáucho, frio de renguiar cusco, a guaipecada tá andando em 3 patas só. Outro dia acharam um graxaim congelado, durinho. (graxaim ou sorro (Pseudalopex gymnocercus))

Graxaim é encontrado congelado em Getúlio Vargas, no Norte do RS

Animal de médio porte foi achado em pé à beira de uma estrada.
Veterinário diz que é pouco provável que animal tenha morrido de frio.

Mas morreu numa madrugada fria. Aqui em casa, aconteceu uma coisa estranha que eu trago em primeira mão para vocês. Tenho fogão à lenha e lareira. Pois "bueno", a lareira deixei até as guela de lenha pra queimar a noite toda. o fogão idem. Nos meus pés, na cama, a famosa bolsa de água quente.Quente não, fervendo. Pois não é que quando o relógio marcou uma hora, tive que levantar e renovar a água? Ainda bem que deixei o fogo ligado. Aticei mais o fogo, coloquei mais lenha, renovei a água na bolsa térmica e na chaleira de ferro. voltei para a cama para aguentar a friagem de toda a madrugada que ainda estava por vir. Me acomodei, dei uma enlaçada na nega véia e ferrei no sono. Não levou duas horas acordei com uns barulhos estranhos: sisisisisisisisisi  plec plec, sisisisisisisisis plec plec. A nega veia disse que havia gente na casa. Meio a contra gosto levantei. Peguei o facão, e fui ver o acontecido. Pé ante pé fui até a cozinha, que era da onde vinha o ruido. Como não enxerguei vulto algum, acendi a luz. Surpresa. Devia ter filmado. Uma aula de Ciências na minha cozinha. A água nos seus tres estados. Líquida, sólida e gasosa. A chaleira tava fervendo, o vapor subia e quando resfriava no teto, já caía como pedrinhas de gelo. Nossa senhora!!!
Voltei pra cama e qual a minha surpresa: a bolsa d'água tava congelada!!!
Joel Bento Carvalho, seu criado para serviços leves.