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Estudo feito pela Boise State University aponta que
45% das mulheres entrevistadas já beijaram
outras mulheres |
Estimados leitores, de todos os gêneros, marcas, modelos, cor, tamanho, preferência clubística ou gastronômica, pânico em Detroit, como diria David Bowie.
O que os estudos do Instituto de Pesquisas Carneiro da Cunha já apontavam há algum tempo agora é ciência da boa e comprovado pela Universidade de Boise, Idaho, nos Estados Unidos: mulheres hetero, sessenta por cento delas, caros leitores, caras leitoras, sentem atração por outras mulheres.
Em não estamos falando de mulheres homossexuais, mas mulheres hetero, que pegam, matam e, ocasionalmente comem esses estropícios também conhecidos como nós, homens. Mulheres hetero, quando apreciam o corpo, a alma, e outras qualidades igualmente espirituais de outras mulheres podem, muito tranquilamente estarem fantasiando sobre uma e outra em trajes de oncinha e se debatendo em um cenário de Ultimate Fighting sobre gel. Essas mulheres!
O estudo da Boise State University detalha melhor a coisa: 45% das mulheres pesquisadas já beijaram outras mulheres, e não parece que na bochecha ou em um feliz aniversário, mas se admirando pra caramba, durante uma festinha na empresa, no clube, na praia ou no campo. 50% já tiveram fantasias sexuais com outras mulheres, provavelmente muito mais do que as que fantasiam sexualmente com esses trastes também conhecidos como homens - que raramente justificam uma boa fantasiada, tão óbvios que são, tadinhos.
Agora, caiu aqui com a Playboy, caros leitores: a Boise State University, como o nome sugere, fica em Boise. Boise, para os poucos que ainda não sabem, fica em Idaho. Idaho, batatais leitores, é famoso pelas batatas, e nem um pouco pela liberalidade em qualquer assunto que não seja fritas com ketchup, maionese ou mostarda. Se em Boise é assim, imaginem aqui ao nosso redor. Se americanas, que podem ser acusadas de tudo, menos de sensualidade excessiva, são assim, imaginem as brasileiras. As americanas precisam se vestir de oncinha para parecerem que sentem alguma coisa pelo sexo com quem quer que seja, ou com o que quer que seja. As nossas são onças, que saem por aí fazendo de conta que se civilizaram nos últimos anos, mas só fazendo de conta.
Que medo de sair às ruas, caros leitores! Quero dizer, que medo, se eu tivesse a sorte e o bom senso de ter nascido mulher, coisa que obviamente me escapou na época certa. E acho que passou o momento para bisturis, no meu caso ao menos.
O Instituto Carneiro da Cunha de Estudos Sobre Praticamente Todas as Coisas já tinha apontado para essa tendência há algum tempo. Tanto que em breve sai um livro intitulado "Primeira Vez e Muitas Vacas", escrito por esse que vos atormenta, que aborda exatamente esse tema, mesmo que não lá tão cientificamente quanto o pessoal de Boise, Idaho.
Homens não são de nada, caros leitores. Nós chegamos ao mundo ancorados por um pênis, que além de balançar ridiculamente pra lá e pra cá e sentir muito frio ou timidez nos momentos de exposição, também não nos deixa em uma situação muito impressionante nos melhores momentos. Somos, sinceramente, esquisitos pra caramba. O tal pênis, que Freud erroneamente acreditava ser uma inveja das mulheres era, na maior parte de tempo, motivo de riso delas, que entre outras coisas, nadam melhor do que a gente por falta de resistência ao avanço hidrodinâmico. Tudo que o nosso glorioso apêndice nos proporciona nesses momentos é nos levar mais para um lado ou outro da piscina. Mas ele nos prende, caros leitores, a um e um papel somente. Ou somos heteros, ou somos gays, e, com a nossa tradicional falta de imaginação, se não somos isso, também não somos mais nada.
Mulheres, super e ultra poderosas, livres de entulhos, se deslocam livremente, escolhendo e beijando quem bem entendem, mulheres inclusive, que além de igualmente deusas e poderosas, usam perfume.
Para nossa sorte, essas predadoras naturais são onívoras, o que nos mantém no seu cardápio de preferências, ufa! Mas nada impede a evolução natural das coisas de fazê-las irem mais para lá, e menos para cá. Nós não temos assim tanta energia, e nos distraímos se houver Barça x Qualquer Coisa. Não nos concentramos em beijar partes como costas e tendões em geral, e elas ficam muito, muito irritadas com essa nossa falta de sensibilidade para o que importa. Somos os piores amantes do mundo, com exceção dos moluscos, talvez. Pensando bem, porque somos moluscos, boa parte do tempo.
Sei não, mas os dados assustam. Por enquanto, seguimos com algum valor de mercado, mas acho que essas pesquisas deveriam servir de aviso. Ou nos aprumamos e aprendemos a valorizar o que importa para as mulheres - tipo tudo -, ou em breve vamos poder, no máximo assistir. E com mais um tempo, quem sabe, caros leitores, nem isso. Fica o aviso.
Marcelo Carneiro da Cunha é escritor e jornalista. Escreveu o argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos "Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de escrever o romance "Depois do Sexo", que foi publicado em junho pela Record. Dois longas-metragens estão sendo produzidos a partir de seus romances "Insônia" e "Antes que o Mundo Acabe", publicados pela editora Projeto.
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